terça-feira, 4 de junho de 2013

NAQUELA NOITE...

And when, alas! Our brains are gone, 
What nobler substitute than wine? 
LORD BYRON 

    Eu queria deixar aquela vida de perdição. Mas eu realmente tinha algo mais forte do que eu. Eu saíra daquela quarto deixando para trás vinhos e mulheres, ficou exatamente como sempre o deixo, as garrafas vazias, o tapete manchado, as taças caídas e as mulheres também, naquele sono profundo, o seio palpitando, lânguido e sereno. A janela aberta fazia o vento de uma noite fria entrar por ela, a cortina leve e branca apagou as velas derrubando os castiçais. E eu virara as costas sem jamais me importar. Caminhei no escuro deserto daquela noite, nenhum ruído me fazia companhia, exceto por um pássaro que acabara de pousar em uma enorme árvore em frente ao cemitério. Continuei andando até chegar na pensão. 
   Lá, deitei a cabeça no travesseiro sem culpa e adormeci pensando em um avalanche de coisas que não sei explicar, era confuso demais. O rosto perfeito daquela virgem que me fez sorrir na juventude não parava de vir a minha cabeça. Realmente o destino não foi generoso comigo. 
    A medida que o sono ficava mais profundo, que minha respiração ficava mais lenta, alguém gritava pelo meu nome. Uma mulher. Um tom desesperador, arrepiava minhas entranhas, porém a voz era muito familiar para mim. De onde eu a conhecia? Tentei fazer um resgate de memória, mas nada parecia ajudar a lembrar. Então senti algo pegar na minha mão e me convidar para sair da cama. Eu fui, mas não conseguia enxergar muito bem quem pegara a minha mão. Meus olhos não conseguiam abrir. Mas aquela voz era tão doce, me acalmava tanto agora... Não tive outra escolha. Senti cheiro de grama molhada, em seguida pude sentir a garoa cair sobre mim. Estava muito frio, aquela coisa envolveu seus braços ao meu redor e disse que tudo ia ficar bem, que eu iria deixar para trás toda aquela vida boêmia, de perdições, vinhos e mulheres. Inclinei minha cabeça no seu ombro, pude sentir seu seio palpitando. Ela acariciava os meus cabelos e eu estava gostando. Eu queria abrir os olhos o mais rápido possível para poder saber quem era, conhecer aquele rosto. Depois de muito esforço consegui abrir os olhos, eles se encontraram com os olhos dela. Não podia ser... Era a coisa mais nojenta que já vi em minha vida. Aquele rosto deformado, esverdeado como limo, dentes afiados e cabelos tão vermelhos quanto fogo. Não me pareciam nada angelicais. Aquela coisa gritou comigo, dizendo que era para eu parar de olhá-la assim. Eu não pude controlar, lancei a criatura para longe, mas ela voltou caminhando em minha direção com os braços abertos. Corri para o quarto da pensão e tentei fechar a porta, mas ela conseguiu correr atrás de mim e segurar minha mão. Sua mão estava fria e suada, seu olhos me olhavam com sede, tão arregalados que pensei que fossem saltar para fora. Peguei a faca que deixo ao lado da minha cama e a ameacei. Ela não largou minha mão, e seus olhos pareciam implorar.             Aqueles cabelos de fogo, oleosos e cumpridos, estavam colados no seu rosto, aquilo me assustou. Não pensei duas vezes, cravei a faca no seu peito. Aquela coisa agonizou por algum tempo, os olhos pareciam ainda maiores. Abri o armário e vi uma garrafa de vinho, aquele que eu cobiçava há um tempo. Dos meus lábios pude sentir um sorriso. Olhei para a criatura caída no chão e depois de um tempo revirando aquele corpo horrendo para ver o que poderia tirar proveito, o crânio... Ah, aquele crânio sim era encantador. E aí, serviu para alguma coisa, abrigar aquele magnífico vinho, que eu tanto cobiçava, em grande estilo. Nada melhor do que um bom crânio para apreciar um delicioso vinho. Realmente a vida não é grande coisa, então pelo menos podemos dar utilidade a morte. 
    Na manhã seguinte pude sentir novamente meus lábios sorrirem. Quando olhei para o lado, vi o crânio caído no chão e a garrafa completamente vazia, ao lado, a criatura morta, caída sem cabeça, mas desta vez, diferente da noite anterior, ela parecia branca como neve, vestia um vestido longo e branco, podia-se ver claramente suas curvas e depois de examiná-la, pude ver uma gargantilha de ouro exatamente igual a que eu dera a minha amada nos meus tempos de juventude, um amor quase inocente por uma virgem de rosto angelical. Peguei a gargantilha, aquele arranhão me parecia familiar... Era ela. O que o sonambulismo não faz com um homem. E naquela manhã eu pude me juntar a minha amada para sempre. 

Karoliny Campos.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Entre as loucuras e a solidão,faço par com a noite, e a sua escuridão, seguir minha viagem de sonhos. E os pés descansam, as asas me levam, e de repente me lançam, me lançam para o alto. Tão forte, tão forte... Não tem como voltar. Aqui no alto: Só escuridão. Lá embaixo: Partiu meu coração. Mas o louco escravo prefere o luar. Aquele som maldito, quer-me sonhar. Parte daqui alma ignava! Te mandas e não queiras mais voltar! Que a sombra que eu sonhava seja apenas a do luar. Sonho escravo, de mão em mão, deixaram meu sonho roto. Farelos de alma e um coração agora só eram lodo. Com a leveza que as asas me trouxeram, nelas eu pude reclinar, e neste leito de sonhos morreram os homens que sabem amar. A vida sedenta de espinhos me trouxe os segredos do luar, mas quando ouvi o murmurinho, congelei friamente o olhar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Não sou poeta.

Não tenho vocação para ser poeta, porque meus sonhos não são nada poéticos, e por mais que a vida seja generosa comigo ela não faz o mesmo com todos. Ser um homem que gosta da solidão não me assusta; nada me assusta, porque viver seria assustador? Aqui tem café para me recompor, tem flores para cheirar e belos campos para contemplar. Sei que tudo isso irá morrer, outras belas coisas tomarão o seu lugar. E mesmo assim, digo que nada é belo. Nada. De que adianta eu ter uma vida perfeita se ainda existe alguém que chora? Mas mesmo tendo vida bela, e dizendo o contrário, me contento em contemplar os astros, que tanto me iluminam e mesmo não me tornando um poeta faz sentir-me um. Não quero te dizer como deves te comportar, não quero te dizer palavras bonitas para que me reconheças como poeta; não tenho beleza alguma, porque ei de mentir para ti? E é assim que a vida se faz: de camuflagens, não adianta de nada eu te abrir um sorrido se meu inconsciente chora, se minha alma é feita de impurezas, se não tenho calor... E jamais irei pedir para sorrires se não despertas essa vontade, chorar faz tão bem quanto render-se. Evolui.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ela caminhou, caminhou, caminhou...
Mas estava cega ao que lhe mostravam
Chegou a uma floresta turva
As corujas faziam barulhos
Os sapos faziam barulhos
A névoa...Ela viu a névoa
Seguiu a névoa
Viu a mão
A mão brotando na escuridão
E lá no fundo...bem no fundo
Parecia que a mão falava
E dizia assim:
Pegue minha mão, pegue minha mão
Onde está meu mundo?
Não consigo mais pensar
Onde está tudo?
Não consigo mais sonhar
Minha vida, minha morte
Caiu no objetivo
Cadê meu inconsciente?
Cadê meu sonhos?
Cadê minha mente?
Pegue minha mão, me dê a juventude
A pele mais clara,
A moça mais doce
Da floresta mais escura
Da vida que me trouxe. 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Feras amores.

Ferozes, fugazes, velozes... Vorazes. Querem voar.
Pedem suas asas, querem licença, precisam passar
Repletos de sonhos vão
de par em par
Repletos de sonhos não
querem poupar
De onde vêm não sabem, não querem saber
São livres no céu, são filhos de Deus
Se amam não sabem, só querem viver.
E quando olhamos pro céu
Lá estão novamente
De par em par
Libertando nossa mente
Querendo ousar
E voam, voam sem parar
Explorando ao léu
Sem saber parar
Mas pertencem ao céu
E não deixam de amar.




Karoliny Campos

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Parei, e esperei o vento passar... Só para senti-lo. Senti-me bem melhor. O vento às vezes parece que sorri como um velho amigo, não sei bem o porquê, apenas sinto. E quando sentimos simplesmente sentimos, e não há ninguém que diga que sabe como é.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011



Eu me enganei, pensei que as pessoas fossem mais sábias, que as pessoas amassem e nada mais. Que soubessem que amar basta. Aí me perguntei: Até que ponto chegaremos? Ponto extremo. Estamos nos preocupando em saber quando um meteoro cairá na Terra ou quando seremos destruídos por ondas gigantes ao invés de estarmos nos preocupando com nossos limites que são cada vez mais sendo ultrapassados. Hoje dominamos tecnologia, amanhã seremos destruídos por ela, e já vimos isso muitas vezes. O feitiço virá contra o feiticeiro, estamos nos destruindo aos poucos, fazendo cada vez mais “utilidades inúteis” ao invés de amor.
Isso resultará em pessoas apodrecendo com um único arrependimento: Não ter amado um dia.